O quanto da Natureza Selvagem se perdeu


*por Douglas Beltrão

Eu não vivo como deveria. Você não vive como deveria. Temos sérias chances de deixar de viver sem Viver.

Definitivamente esse tipo de pensamento não estava rondando meu cérebro antes de assistir, com dois anos de atraso, Na Natureza Selvagem (Into the Wild). Dirigido pelo fodão Sean Penn, ele nos apresenta a Chris McCandless. Um jovem vindo de uma família desestruturada, recém formado, ingênuo, inundado de Tolstói e Thoreau que abandona tudo para partir em uma viagem pelo México, EUA e Canadá até o Alasca em busca de nada mais, nada menos que Viver 'in wild'.

Um típico roadmovie onde o personagem principal em dois anos anda por mais lugares que eu nos meus vinte, conhece muito mais pessoas marcantes que eu e você e descobre como alcançar a felicidade isolado em pleno inverno canadense. O foco desse texto não é o brilho óbvio de como alcançar a felicidade e sim o quanto de 'selvagem' não temos.

A pergunta é 'Quantos'. Quantos lugares novos você conheceu no último semestre? Dois, três no máximo? Quantas pessoas realmente interessantes passaram por você no ultimo ano? O quanto você se permite?

A maioria das pessoas passa pela juventude adestrada como animais, que só deitam, rolam e fingem de morto. O sentimento aventureiro dos jovens hippies que se alastrou no anos 60's e 70's, a revolta sem/com causa dos punks da década de 80, o grunge e a fuga/busca da melancolia nos anos 90's sequer afetaram a geração do novo milênio. Os anos 2000 não formaram pessoas tão interessantes quanto as décadas passadas. Somos uma geração sem grandes guerras, sem ídolos e sem propósito. Uma geração que vive embaixo da saia da mamãe. Os jovens tem como cinema 'As Branquelas' e 'American Pie'; literatura é resumida a Crepúsculo & Cia; a internet, maior meio de comunicação e conhecimento, se encolhe num orkut.com; e a televisão... bem, nem precisamos comentar (malhação,essafoicomvocê).

Muitos acreditam na fórmula mágica do Futuro Seguro: Faculdade+Emprego+Casa+Família = Felicidade. Maaaaas, bravos e poucos são os que não se afetaram por esse sedentarismo mental. Poucos os quais enxergam que a única forma de virar gente de verdade é experimentando. Experimentando a curiosidade, a dúvida, o desconhecido, o selvagem, o eu. Veja bem, ninguem nega a lógica dA Fórmula do Futuro Seguro, mas só derivamos dela a necessidade do Experimentar. Do ver, do ler, do sentir, do ouvir e do se desprender.

Exercício mental: Quantas coisas novas você aprendeu nesses meses? Falo de coisas úteis, 'orgulhantes'. Quantos livros você já leu? Quantos objetivos você tem hoje que decididamente vão ser alcançados, custe o que custar? Quantas convicções morais você tem hoje, no auge dos seu 15, 20 ou 30 anos? Quais são seus ídolos? O quanto você pensa?

p.s. Não confunda o que se diz aqui com falso moralismo ou falsa indignação. Tudo não passa de um post pretensioso.

2 comentários:

Valfredo Mateus disse...

Eu tô feliz com os escritos.

CarO Douglas, um roadmovie bem legal é uma produção norueguesa, Sofies Verden, baseada no livro O Mundo de Sofia.

E tem tudo a ver com o teu post, sobetudo porque a gente é fadado a comer, beber e rir, curtir todos prazeres que a vida nos proporciona, seja abocanhando um "bigmac feliz" ou distraindo-se com um blockbuster, como "twitlight". Mas, há pessoas que sorriem bem mais, distraem-se de barriga bem mais cheia, contentes com essa nossa "existência" e chulo representar de vida.

abraço!

ariela disse...

a-do-rei esse post, Douglas! Muito bom!!

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