Dia 19




Muita coisa aconteceu depois do ultimo dia 02 de Agosto, quando julguei que não haveria mais nada a expressar aqui. Não pensei que precisaria voltar a escrever...até então me bastavam os desenhos, aquarelas, músicas, playlists...onde você continuou presente. Porém, depois dos recentes dias, depois de errar, mentir, me culpar e o coração vaporizar...

Sabe, gostaria de ter o número exato de desculpas necessárias, o manual de como reparar e a chance de ter uma nova chance pra te mostrar que meus erros vieram de um lugar cheio de inseguranças e confusão. Confusão. Você deve saber bem o que ela faz...no turbilhão da minha eu errei e desculpa por isso. Se eu pudesse me pôr ao avesso pra que tu vejas minha vergonha, quem sou de verdade e que um erro como esse não é nem de perto reflexo do que sinto...Mas foi-se o tempo em que a vida dava tudo de bom e nada cobrava, certo? Ela me deu você e cobrou muito de mim enquanto tu me cobrava tão pouquinho...quase nada. Não. Não uma cobrança, mas um acordo. 

Um acordo que quebrei por medo. Medo de que pense que meus braços já estejam fechados pra você quando NÃO, NÃO estão! Nunca estiveram fechados por que você é uma das poucas certezas que eu tenho nessa vida. E vem cá...nessa mesma vida eles ainda estarão por muito tempo do jeito que estão agora. Um Leste outro Oeste.

Isso te vale algo? Sim ou não é minha vez de acolher as consequências dos meus atos. Coragem.

Coragem me falta também pra entender que independente do que eu continue sentindo ou querendo, você pode não se sentir mais daquela forma que um dia eu vi e experimentei. Eu lembro exatamente de como você tocava no meu rosto e me olhava (que. falta. faz.), de como compartilhávamos tudo de nossos dias, da melhor amizade que tive, de como parecia (estranhamente) só existir você e eu, o cheiro do teu cabelo eu sinto enquanto escrevo isso, sing me to sleep...como pode tudo aquilo ter ido embora. O que há ainda?

Um Norte

Um Norte que ajude a me preparar apenas pra curva que você dobrará quando estiver realmente bem; e não para todas as existentes. Mas não faz diferença como vai ser, faz?. Todas as que se fazem acreditar possíveis já dão o suficiente pra prever o que incluem ou não. Não me iludo e não te ilude...essas já doem. Umas podem doer (bem) mais que outras, mas já doem. Voltando, indo sozinha ou com outro, não importa. Vai ser o que vier e será isso: uma certeza, uma verdade. E as pazes faremos com isso. Eu... claro que gostaria de estar numa curva possível. Mas quando estiver realmente bem o que é possível? 

Por último

Queria colocar aqui todas as músicas e filmes e poemas e pinturas e ilustrações necessárias pra traduzir o tanto que sinto e tenho considerado...não acho que seria suficiente. A vontade de aceitar uma casualidade, a aceitação/ciúme de sentir novas pessoas aproximando-se, o que se quer, o que se precisa, ser menos para estar perto, ser mais pra ser Sol, mostrar menos do meu afeto pra equilibrar o que é retribuído, mostrar mais o meu afeto por que é assim que sou, o respeito medroso por saber que quando meu pacote cinza de laço azul, com nome, mas sem endereço, for jogado fora vai ser pra sempre e tantas outras coisas...

espera. o que importa pra mim é que

Outro dia reli que o amor quando aparece é em tudo semelhante à forma física do mercúrio. Quando o termômetro se quebra, o elemento químico se espalha e então se divide pelos salões de todas as festas... todos meus salões continuam inundados por teus cabelos, tua extraordinária força, tua risada, tua inteligência, teu humor, tua empatia.

Olha, a luz entrou torta por nós adentro, mas ouve...por enquanto ainda há música no ar pra se dançar.



Do Verão




Mesmo que o amor por mim berre desesperadamente para eu ir embora, o amor por você sorri e abre os braços do nascente ao poente, para me mostrar porquê ficar. Tal. Qual. Um. Sol. Vai faltar um cadinho da luz desse sol agora. Não sei se te disse, mas durante os nossos dias, fez sempre Verão em Lisboa Recife.

Enfim.
Um abraço.



Dos dias





Há dias em que espero, ingenuamente, uma unica razão pra ficar e esperar. Uma esperança infantil pela chance de fazer tudo certo, bonito, iluminado, compartilhado, só sorrisos, carinho, desejo. Da forma que temos certeza que seria.

"...you building the castle with one hand
while tearing down another with the other"



Há dias em que sinto como se estivesse prestes a transbordar. Caminhando lentamente, olhando pros meus pés, pro que vem a meu encontro, desviando, prevendo que a menor pancada - foram muitas - vá dar vazão sem controle ao infinito que tenho aqui dentro. Por isso que deveria ter visto esta despedida vindo. E esse receio de que dois passos após ela, ao olhar pra trás com um sorriso pequeno e o mar no olhos, já te veja longe, muito longe. No horizonte. No teu horizonte compartilhado.

"...but the ghosts that we knew will flicker from you
And we'll live a long life"



E há dias em que lembro de estar presente na minha própria vida. Na vida que havia antes de tudo e que é tão difícil de retomar. Ocupado, focado, resignado e seguindo da mesma forma. O controle sobre algumas das emoções; racionalmente vendo, à distancia, tudo menor. Menos aquele pacotinho cinza de laço azul que não diminui. Eu que devo crescer. Crescer para caber mais. Mais de mim, mais de quem puder.

"...don’t you worry about it, don’t you worry about it
Try and give yourself some rest"



Da retribuição




Tuas mãos descobrindo meus cabelos brancos, teus dedos passeando pelas minhas sobrancelhas, teu rosto na minha barba, tua respiração no meu ouvido. Teu hálito no meu rosto, teu beijo nos meus olhos, teus olhos decorando cada traço meu como eu fiz com os teus. Teu gosto, teu descanso no meu ombro. Teus cachos. Em volta de mim, teus braços.

Tudo isso se perdeu nas escolhas.

Fazer parte da sua vida, em todos aspectos e âmbitos. Conhecer ainda mais de onde você vem, quem está a tua volta, teu quarto, tuas coisas, tua casa. Ser inserido em seu mundo tanto quanto te inseri e fiz confortável no meu.

Tudo isso se perdeu nas escolhas.

Ser cuidado.

Tudo isso se perdeu nas escolhas.


Da atenção




Sei que não vai me substituir. Sei que mesmo soterrado pelos desencontros e culpa eu estou ai. Que me ama e que continuo impregnado em você de alguma forma bonita.

Mas é sobre a tua atenção. 

Depois de tudo, suponho que hoje já não sou fonte de conforto, sorrisos e interesse como fui antes para você. Por isso, como quem se afasta e olha pros lados para se proteger, menos atenção você presta. Resignado, sentindo que já te perdi de tantas formas, suportando mais essa. As horas e horas ao telefone, o sofá, a troca, as respostas imediatas às mensagens... O que havia aqui vai ser encontrado no trabalho, nele, nela, neles, nos novos, nos antigos, na perspectiva do futuro.

E isso é bom! De coração, isso é. Estar algumas páginas a frente e à volta de tantos outros apoios é não sentir o vazio como sinto e é menos importância a ser dada quando finalmente eu já não estiver aqui. Te ver se recompondo depois de tudo é um alívio.

Mas é sobre a minha atenção.

Que não sei pra onde apontar.

Do sol




Sobre esse teu dom de conquistar as pessoas sem esforço. Um sol que incide os raios/cílios dessa personalidade na vida de tantos, fazendo com que todos adorem estar em tua órbita. Iluminando, aquecendo, trazendo alegria, sempre com espaço, humor, simpatia e que me inspira a estar à altura. Ser a melhor versão de mim, por mim e pra você. Retribuir minimamente o bem que você me faz. Por que a exuberância aos meus olhos e lentes é você.

Eu não escapei da tua gravidade e hoje, junto com meu pacote cinza de laço azul, sou melhor por isso.

22-21



22: Você descobre meu próximo lar, eu descubro que 21 foi ontem e toda inquietude fez sentido. Sabia, antes de saber, que algo viria pra terminar de me demolir.

Remember me as a time of day




Na primeira coisa ao acordar. No fôlego antes dos próximos 500 metros. No banho, na água que desce por um corpo retesado, travado, que se segura e se estica pra não deixar transbordar frustração. 

Na ida, no caminho, no trânsito, no café. No olhar opaco e sem foco pra tela do computador, pra janela, pro rio. Entre uma ligação e outra, uma página e outra, uma prateleira e outra. 

No tempo que perco, ausente/presente nas aulas. Na volta, no caminho, no trânsito, nos fones estourando os ouvidos como se o som pudesse ocupar teu lugar, te empurrar pra fora da parte consciente da mente. 

No fim do dia, me preparando pro próximo. No ultimo momento antes de adormecer torcendo pra que amanhã, ao acordar, só pra variar, meu primeiro pensamento não seja sobre você(s)


01 laço



Então me perguntei: "Qual a melhor coisa que tenho, que sei fazer e posso compartilhar?" Logo veio a resposta e pronto, já fui embrulhando tudinho rapidinho - com pressa e sem responsabilidade, admito - em papel de presente cinza e laço azul, os sorrisos engolindo as orelhas. Passei a andar com esse pacote sob o braço o tempo todo. Na praia, no sofá, nos carros, nas filas de fast food...Você já andou por aí com um presente lindo embaixo do braço o dia inteiro? Por meses? Ano? Eu nunca.

O problema é que antes de embrulhar o pacotinho todo faceiro esqueci de colocar a etiqueta pra devolução e troca. Esqueci ou ignorei. Daí quando entreguei, não serviu... Ficou pequeno e era presente repetido. Já que não deu, peguei de volta e guardei bem guardado. 

aqui.

Já, já deve começar a bater poeira, o azul do laço desbotar, o cinza do papel embranquecer até ser visto embaixo de alguns livros, filmes, pessoas, séries, coisas... É, talvez seja o melhor a acontecer. Mas ele vai continuar ali com remetente e destinatário no cartão. E eu disposto a te entregar novamente; quando der, couber ou você quiser. Não vou jogá-lo fora. Por que? Porque é óbvio: é o único pacote desse tipo que tenho, que me tira do eixo, o único que fiz questão de embrulhar bonitinho e colocar um nó de fita em cima...Não, não, 'nó' não. Laço. Nó aperta, laço enfeita, já dizia aquele rapaz.




Pois é




Um dia eu enchi o peito, olhei pra dentro e vi que não me importaria em ser costurado na tua vida. Escorregado entre as brechas de um círculo de amigos, peneirado no crivo familiar, empurrado entre algumas rachaduras para cair em um vazio recém criado e ali inflar; segurar o ar como quem quer parecer ser maior até o ser. Ou explodir.

Explodi.