Hermanos

*por Douglas Beltrão

Quantos amigos você já perdeu? Não no sentido funerário da expressão, mas quantas pessoas que um dia já foram dignas da tua amizade e carinho você já não encontra mais? Aquele seu amigo mais íntimo há 5 anos atrás, onde ele está agora? O post passado acabou de forma inusitada. Haveria mais a ser escrito nele, mas a palavra 'falta' no último parágrafo não foi digerida muito bem por mim. Ela me lembrou deles.

Podia chegar aqui, ligar o modo 'clichê' e começar a exaltar o valor das amizades. Maaaaas...tá ok, vou fazer isso.



Os amigos mais queridos eu já encontrei e não espero encontrar outros nem tão cedo. Não vejo nas novas tantas amizades que tenho plantado nos últimos tempos a tenacidade e firmeza (?) dos 'Meus Das Antigas'. Assim como você, eu tive uma turma, a melhor turma de todas. As melhores pessoas estavam do meu lado, não podia querer companheiros melhores pra conviver do que eles. Éramos desenrolados e descolados como esse pessoal nas fotos (?!).
3,4 caras; 3,4 meninas; 1,2 casais; 4,5 solteiros. Era pra ser assim pra sempre. Nada separaria a nossa turma, a nossa gente. Nunca 'nada' foi tanta coisa...


O negócio aqui é a falta dos amigos que não temos mais. Não é que não temos mais, veja bem, os temos sim, o que não temos é o mesmo contato que tínhamos tempos atrás. Uma falta de tempo aqui, um compromisso ali e segue-se o curso natural. Cada um vai pro seu lado, os contatos começam a falhar. '(...) e a gente esquece sabendo que está esquecendo.' Não. Não esqueço! Mas se antes nos reuníamos uma vez por semana, hoje só nos vemos de ano em ano, nos aniversários de cada um. Ficamos felizes quando nos esbarramos em um ônibus qualquer.


Nem venham frescar, vocês devem saber do que eu tô falando. Isso aqui não é um desabafo único nesse mundo. Por exemplo, moro a 3 quadras de um parceiro de mais de 10 anos e fazem mais de 3 meses que sequer tenho noticias dele. Não, não é absurdo. Simplesmente acontece. Vai ocorrer com você também se não tomar cuidado. O tempo cuida disso.

Se nos separamos por desavenças, veja bem, há tempo de rasgar e tempo de costurar. Se o talho for grande demais, esqueça, não existe volta. E esquece o tempo também, esse só tem a fama de que cura tudo. Mas se não, guarda lá no fundo aquele desejo: 'Um dia nos reencontramos atravessando a rua, na parada do ônibus ou no supermercado'. Nada apaga esse tipo de anseio. Por mais que as desavenças tenham sido por tua causa, ou não, por mais que as palavras que te foram ditas ainda machuquem, por mais que desculpas não tenham servido...ainda sim pode haver volta. "Como a vida é tecelã imprevisível, e ponto dado aqui vezenquando só vai ser arrematado lá na frente"



As coisas mudam, as pessoas também, cada um escolhe um lado pra ir. Mas o que fica, o que fica mesmo são as lembranças. As fotos - quem nunca sorriu sozinho vendo fotos antigas?

p.s Itálicos de Caio Fernando Abreu.
p.p.s Dawson's Creek nas manhãs de sábado da Globo te lembra algo?