Entre prateleiras






Aprendi com Ela praticamente tudo o que sei sobre mulheres aos 16 anos. E vou logo dizendo que não foi muita coisa. Aprendi que, principalmente no campo amoroso, não devo fazer com elas o que não desejo que me façam. Aprendi que toda mulher merece ser mordida, chupada, lambida sem pudores, receios ou freios. Dessa forma, dizia Ela, "nunca vão te esquecer". Aprendi em Ela que nem toda mulher precisa ou quer dormir de conchinha. As vezes só querem sexo e eu tenho que deixar de lado esse machismo que tanto luto pra esconder quando encontrar uma dessas moças. Nunca consegui fazer isso...me pego impressionado quando não sou eu que vou embora num táxi às 3:00am. Com Ela, entre uma aula de Física e outra de Literatura, todas Terças e Sextas, me acostumei a trepar no banheiro feminino da escola. Um costume que até hoje, tempos de Universidade, não abandono. Foi com Ela também que aprendi da pior forma uma das verdades universais: Se você tiver uma 'queda' por alguem que dure mais de 3 meses, desespere-se: você está apaixonado. Se você contrai o maxilar envergonhado de si mesmo toda vez que se pega pensando em tal pessoa, corra.



Aprendi com Ela que quando uma Mulher diz Sim, ela quer dizer Sim. Quando diz Não, ela quer dizer Não. Ela me contou que existem fêmeas que trocam essa relação básica. "Como eu disse, apenas fêmeas". Eu que sempre quis ser um rockstar - e ainda quero - não entendia que eu não precisava ser o cara mais bonito, talentoso, saber dançar, rico ou charmoso para conseguir uma mulher. Ela me avisou que bastava ser engraçado nas horas certas, abrir potes de azeitonas, ser sincero e claro, chupá-las. Ela me iludia dizendo que os livros e filmes nos quais eu me entrincheirava ainda iam me ajudar nesses campos e assuntos. Podia estar errada... Depois dEla aprendi que juras de amor embriagadas, pactos de sangue ou contratos assinados não impedem que relações que pareciam ser eternas se desfaçam com aquilo que acontece sem a gente perceber: a vida.



Relembro tudo isso por que ontem encontrei Ela na fila do Supermercado. Olhei pro lado e lá estava, toda sorrisos, me encarando, aliança de noivado no dedo, graduada, channel e mais linda do que nunca. Depois de 3 anos e com a surpresa do encontro, passamos horas entre prateleiras de miojos e Doritos conversando, lembrando. Ela desliga o telefone pra não incomodarem, eu esqueço o que vim comprar. Ela chora um choro contido, daqueles em que toda fibra do seu corpo se empenha em esconder quando eu digo, com toda a sinceridade, que ela foi a que mais me marcou e que até hoje, independente de todas que tenham passado por mim ela sempre vai ter um lugar iluminado no meu coração. "E pode estar parecendo, mas apesar disso eu não espero que tu deixe sua vida atual pra tentar algo novamente com o namorado da adolescência". Ela concordou e disse que nunca faria isso mesmo. Eu, egoísta que sou, perguntei por que ela estava com esse cara, afinal no nosso tempo Ela dizia não acreditar na instituição chamada Casamento: "Por que com ele eu sinto o que nunca senti contigo ou com qualquer outro que conheci depois. Com ele sinto algo que me parece uma espécie de Segurança. Me sinto segura, dona de uma situação confortável. Admito que nunca houve aquela paixão toda de adolescente, aquele tesão que eu tinha contigo. Mesmo assim é o melhor pra mim. É uma escolha minha. Sabe, não se ofende, mas pelo que te conheço, pelo que vejo agora, você não mudou muito. Te olho e vejo o impulso, a intensidade, a completude e nenhuma preocupação. Tu ainda encanta e intriga! Sei que aquelas que ficam contigo podem reclamar de tudo, menos que foi um tempo perdido. Mas, cara, eu vejo tudo isso menos a Segurança. Segurança que me diz que tu não vai embora no mês que vem."


Ela ficaria feliz se soubesse que errou dessa vez...que sim, há mudanças.



"Era uma boa mulher. Eu tinha de me endireitar. Um homem 
só precisa de um monte de mulher quando nenhuma delas 
presta. Um homem pode acabar perdendo a identidade de 
tanto galinhar." 
(Charles Bukowski)