Da madrugada sincera alcoólica



Eu, pessoa física, acredito que o homem se revela naqueles 42 segundos entre o gole de cerveja que embriaga de vez e o gole seguinte que vem para lavar o que quer que tenha acontecido nos segundos recém passados.

Seja a confissão constrangedora na mesa do bar de que pegou a mulher que não devia. Seja o beijo roubado. Seja a imitação ridícula do Silvio Santos. Seja o whattsapp se declarando para aquela moça que te pediu em namoro e você disse 'Não'. São nesses momentos que o que foi feito, desejado, consumado, cagado ou pensado sóbrio vem à toa - clichê.

Aliás, existe algo mais clichê do que ligar para quem não devia com um assunto meia boca, querendo uma aproximação instantânea, um pedido de desculpas/amor subliminar escondido nas piadas forçadas e referências sobre coisas de quando vocês ainda estavam juntos? Não, não existe. Porém, para mim, é aqui que a sinceridade do bêbado salva o dono do coração medroso. Afinal, a verdade usa garrafas de Stella Artois como muletas. 

Isso se você atender ou responder as mensagens nesses 42 segundos...por que senão, meu amigo, o orgulho ferido do macho vai passar pro 2º nome na Lista do Apego Emocional que é basicamente o 1º nome na Lista das Trepadas 50% Certas (como assim ela me ignora?! Eu me declaro, sou totalmente sincero e é isso que ganho?!). Amargura de uma rejeição momentânea...é assim que rola. 

Se a revolta funciona? Nem sempre. Arrisco dizer que nunca funciona por que no outro dia, admita, o coração anestesiado pelo rum e sufocado pelos cigarros recupera a lucidez (ou a falta), a merda continua dita e a coisa certa continua não feita. Daí só resta esperar os colhões crescerem e tentar de novo sóbrio ou reconhecer que deve seguir.