Da Raiva

* por Douglas Beltrão

Posso ser chamado de louco mas acho legal sentir raiva. Na verdade gosto da sensação da adrenalina que fica depois de um acesso de raiva. Ok, poderia sentir isso pulando de pára-quedas ou ficando no meio de um tiroteio, mas como não pretendo me arriscar entre a vida e morte eu fico com a raiva.

Deixa explicar melhor. A raiva é a segunda emoção mais comum entre nós, bípedes mega racionais. Ficando só atrás do medo, o qual sentimos pelas mais diversas situações (o que me lembra que conheço alguém que tem medo de borboleta ¬¬). Já a raiva, na maioria das vezes, vem de uma inquietação diante a noção de perigo real ou imaginário ou quando sentimos que nosso poder pessoal pode ser abalado quando posto a prova.

Vê só: o baixo nível de serotonina faz com que pessoas agressivas apresentem baixa atividade dos lobos centrais do cérebro, responsáveis pelo bom senso e a inibição de atitudes impulsivas. Uma prova parcial disso é dada pela constatação da dificuldade cerebral ou de inteligência nas pessoas cuja personalidade é caracterizada por seu mau humor e pela raiva. Traduzindo: o cara quando fica puto fica burro e cego. Sem contar que liberamos adrenalina a qual comprime os vasos cardíacos dando chance pra gente ter um troço e nos deixando doidão.

Viremos a mesa. Podia falar da raiva que me provocam ou da que te provocam. Que tal da raiva que provocamos?! Ah, vai, diz que nunca fizesse merda e emputesseu alguém? Diz que nunca viu teus pais com raiva de você ou a namorada se segurando pra não te bater?!

Do alto da minha graaaaaande experiência, acredito que raiva paterna você ganha fácil, fácil quando não pensa em ter responsabilidade com teu futuro. Se eles vivem te cobrando boas notas, dedicação num cursinho pra entrar na faculdade ou pra passar num concurso e tu nem liga pra isso, cara, um dia vai ficar muito ruim pro teu lado.

Geralmente a raiva vem acompanhada da decepção. No caso dos pais isso é bem mais freqüente. Filhos são cobrados a toda hora por eles. Exigem maturidade de crianças e responsabilidade de irresponsáveis. Quando não conseguem, disfarçam a raiva com uma pura decepção. 'Nós te amamos e nunca vamos sentir raiva de você'...mentira. Se tu fica em casa o dia todo sem fazer nada de útil, vagabundo, eles tão te vendo e um dia vão descontar de uma vez toda a raiva e frustração acumulada. Se você, depois de grande, ainda só pensa em festar e relaxar, espera só...pais decepcionados são pilhas de raiva prontas pra estourar a qualquer momento. Lógico, isso quando eles te querem o melhor e pensam no teu futuro por ti. Eu preferia a decepção à falta de preocupação e indiferença...=S

Já a raiva do parceiro vai no mesmo estilo. Só que aqui a gente amplia pra diversos outros tipos. Ciúme da atual com o ex (o que não deixa de ser raiva), raiva daquele que não te leva a sério e te enrola, daquela que te enfeitou a cabeça bonito, raiva de quando se é trocada... Chifrou? Enrolou? Você já deve ter causado algo assim a alguém. Saiba que esse alguém em algum momento de sua fúria te desejou o que há de pior. Durma com isso ou nem ligue. Nem todos têm consideração pelas conseqüências de seus atos nos outros, certo? Já vi pessoas caírem de cama, passarem mal por conta de alguma raiva. Acredite, é foda ser a 'causa'.

No primeiro post deste blog falamos das projeções. Quando elas acabam pode ainda ser bom ou muito² ruim. Final de projeção muitas vezes gera raiva. 'Ele tá ficando muito chato, não aguento as manias e brincadeiras sem graça': raiva. 'Tá muito frio, sem emoção, sem tesão, sem paciência pra ela': raiva. 'Ela fez novamente aquilo, estragou a chance que dei, não dá mais': raiva. Se te magoaram, já era. A pessoa que o fez vacilou, e se não reconheceu, xau pra ela e bejunda. Maaaas, não é tão simples assim, Watson. Dizem que raiva, decepção e mágoa são coisas que só o tempo cura. NÃO...na minha opinião o tempo nunca cura nada, ele só desloca o incurável do centro das atenções.

Dia desses senti uma raiva fr0m h311. Soquei parede, xinguei a puta que pariu, me senti o próprio Michael Douglas em Um dia de Fúria, coração a 120 e no fim de tudo me senti foi bem. Não, não foi SÓ a adrenalina do primeiro parágrafo. Percebi que sentir raiva é relativo, fazer com que ela nos afete é mais opcional ainda. De onde eu venho havia um cara que me ensinou isso: gerar raiva é ver esse sentimento crescer e no fim ser alvo do mesmo. Tudo aqui vai em ciclos. Não a cause muito menos a sinta.

p.s. Só pra ilustrar, poster de Um dia de fúria ;)