Vergonha, do latim 'verecundia'

*por Douglas Beltrão

Imagine que você tem uma vida boa. Mulher, filhos, bom emprego e uma boa casa. Só que na sua casa há um quarto. Um quarto escuro e antigo e lá dentro vive um monstro trancado. Um monstro horrível que você pariu. Ele não precisa comer ou beber. Ele só existe e assombra. Todos na sua casa sabem da existência dele, mas o ignoram. Vivem suas vidas na mais perfeita calma e aparente harmonia. Mas no fundo eles sabem, VOCÊ sabe por mais que o negue. E isso não te abandonará por toda vida.

É mais ou menos assim que imagino como certas pessoas convivem com seus segredos mais íntimos. Muitos devem ter um. Em algum momento da sua vida te fizeram ou já fizeste algo que te envergonhará pro resto da vida. Sem pensar ou consciente, por ser jovem e imaturo ou maduro e equivocado. Em Dawson's Creek, uma das personagens, Jen, mete com metade de Nova York e é flagrada na cama dos pais por eles, e ainda bêbada e drogada. Amir e Hassam dO Caçador de Pipas são perseguidos pelas conseqüências da violência contra Hassam a qual Amir se omite em impedir. Em Sobre meninos e lobos o personagem de Tim Robbins é seqüestrado e abusado por falsos policias, deixando seqüelas mentais até o fim de sua vida. E Chuck Palahniuk, bem... Esse cara é doente. Ele é o autor de livros como Clube da Luta (sim, o filme veio de um livro) e de um conto asfixiante: 'Guts'

Guts - 'tripas' - narra a estória de três garotos que fodem com suas vidas e por tabela a de suas famílias. Abalam a estrutura familiar com ações que...bem...er...'Alguns atos são baixos demais para receberem um nome. Baixos demais para serem discutidos'. Cara, é forte, absurdo, doentio, nojento, insano. Você foi avisado. Se quiser leia aqui, aqui ou aqui.

Pelo bom Deus, Guts é só um exagero. O que causa vergonha geralmente não chega a níveis como esses (ou não =]). Mas tô aqui pela vergonha alheia. Da esposa, do marido, dos filhos. Suportar os segredos dos outros é complicado. Entender e condenar ao mesmo tempo é mais ainda. Nesses casos descartamos o tempo, não é? Esse, como dito no post passado, não cura nada. Cabe ao Amor e apreço passar por cima. Todos são suscetíveis a erros, assim, é ilógico e injusto determinar o caráter de certa pessoa só por uma ação falha do passado. Ok, se são ações que determinam quem somos, coloquemos na balança as merdas que tu fez e os acertos todos. Quem ganha?

Maaaaaaas nem todos concordam com isso. Aqui, empregariam a seguinte sentença: 'Entendo, acredito nas desculpas, mas não esqueço'. Conviver com um indivíduo e seu 'monstro' exige imensa maturidade. Sabemos que ninguém está livre das influências do passado, psicólogos dizem isso todo o tempo na TV e eu concordo. Concordo, mas há influências e influências. Na maioria das vezes vacilos são superados tranquilamente e em outras não... Nem arrependimentos são suficientes, nem promessas de melhora e 'nunca mais vou fazer novamente' apagam certos atos.

No mais, é o seguinte:
1º Ninguém está livre da influência do passado;
2º Só você sabe se falhará novamente e por isso tente poupar pai, mãe, irmãos, mulher ou marido;
3º Tirando o pessimismo, 'Há um jeito de ser bom de novo'.

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