Seven Nation Army



Olha só que cara estranho. Bicho, que porra é essa?! Tá naquela crise dos 20 e poucos? Sei como é isso...você acha que tá ficando velho aí começa a ver que as tuas antigas certezas nem são tão firmes quanto costumavam ser, não é isso? Que fica mais difícil de se reconhecer, que putarias em grupo nem são tão divertidas assim e nem toda cachaça do mundo consegue te deixar bêbado! E nem tem tantos bons amigos assim, né? Você não assiste mais tantos filmes quanto costumava e passa a andar com os fones de ouvido sempre que possível. Gente malandra não é mais engraçada e as interessantes são raras. É isso mesmo...eu to te entendendo. Tu fica nessa imagem de rapaz de bem, mas por dentro tá pedindo aprovação e não sabe pra onde ir se alguém não aponta a direção. Passei por algo do tipo já... Como é? Te definiram como uma mistura de Mr. Brightside com Mr. Darcy? O primeiro até entendo, mas cadê o orgulho do segundo que tu costumava ter? Evaporou à alguns meses? Sei não, hein...isso é uma furada, cara. Deixa de coisa e faz o favor de arrumar um Norte pra teu barco e para de colocar letra de música nos teus textos.


Entre prateleiras






Aprendi com Ela praticamente tudo o que sei sobre mulheres aos 16 anos. E vou logo dizendo que não foi muita coisa. Aprendi que, principalmente no campo amoroso, não devo fazer com elas o que não desejo que me façam. Aprendi que toda mulher merece ser mordida, chupada, lambida sem pudores, receios ou freios. Dessa forma, dizia Ela, "nunca vão te esquecer". Aprendi em Ela que nem toda mulher precisa ou quer dormir de conchinha. As vezes só querem sexo e eu tenho que deixar de lado esse machismo que tanto luto pra esconder quando encontrar uma dessas moças. Nunca consegui fazer isso...me pego impressionado quando não sou eu que vou embora num táxi às 3:00am. Com Ela, entre uma aula de Física e outra de Literatura, todas Terças e Sextas, me acostumei a trepar no banheiro feminino da escola. Um costume que até hoje, tempos de Universidade, não abandono. Foi com Ela também que aprendi da pior forma uma das verdades universais: Se você tiver uma 'queda' por alguem que dure mais de 3 meses, desespere-se: você está apaixonado. Se você contrai o maxilar envergonhado de si mesmo toda vez que se pega pensando em tal pessoa, corra.



Aprendi com Ela que quando uma Mulher diz Sim, ela quer dizer Sim. Quando diz Não, ela quer dizer Não. Ela me contou que existem fêmeas que trocam essa relação básica. "Como eu disse, apenas fêmeas". Eu que sempre quis ser um rockstar - e ainda quero - não entendia que eu não precisava ser o cara mais bonito, talentoso, saber dançar, rico ou charmoso para conseguir uma mulher. Ela me avisou que bastava ser engraçado nas horas certas, abrir potes de azeitonas, ser sincero e claro, chupá-las. Ela me iludia dizendo que os livros e filmes nos quais eu me entrincheirava ainda iam me ajudar nesses campos e assuntos. Podia estar errada... Depois dEla aprendi que juras de amor embriagadas, pactos de sangue ou contratos assinados não impedem que relações que pareciam ser eternas se desfaçam com aquilo que acontece sem a gente perceber: a vida.



Relembro tudo isso por que ontem encontrei Ela na fila do Supermercado. Olhei pro lado e lá estava, toda sorrisos, me encarando, aliança de noivado no dedo, graduada, channel e mais linda do que nunca. Depois de 3 anos e com a surpresa do encontro, passamos horas entre prateleiras de miojos e Doritos conversando, lembrando. Ela desliga o telefone pra não incomodarem, eu esqueço o que vim comprar. Ela chora um choro contido, daqueles em que toda fibra do seu corpo se empenha em esconder quando eu digo, com toda a sinceridade, que ela foi a que mais me marcou e que até hoje, independente de todas que tenham passado por mim ela sempre vai ter um lugar iluminado no meu coração. "E pode estar parecendo, mas apesar disso eu não espero que tu deixe sua vida atual pra tentar algo novamente com o namorado da adolescência". Ela concordou e disse que nunca faria isso mesmo. Eu, egoísta que sou, perguntei por que ela estava com esse cara, afinal no nosso tempo Ela dizia não acreditar na instituição chamada Casamento: "Por que com ele eu sinto o que nunca senti contigo ou com qualquer outro que conheci depois. Com ele sinto algo que me parece uma espécie de Segurança. Me sinto segura, dona de uma situação confortável. Admito que nunca houve aquela paixão toda de adolescente, aquele tesão que eu tinha contigo. Mesmo assim é o melhor pra mim. É uma escolha minha. Sabe, não se ofende, mas pelo que te conheço, pelo que vejo agora, você não mudou muito. Te olho e vejo o impulso, a intensidade, a completude e nenhuma preocupação. Tu ainda encanta e intriga! Sei que aquelas que ficam contigo podem reclamar de tudo, menos que foi um tempo perdido. Mas, cara, eu vejo tudo isso menos a Segurança. Segurança que me diz que tu não vai embora no mês que vem."


Ela ficaria feliz se soubesse que errou dessa vez...que sim, há mudanças.



"Era uma boa mulher. Eu tinha de me endireitar. Um homem 
só precisa de um monte de mulher quando nenhuma delas 
presta. Um homem pode acabar perdendo a identidade de 
tanto galinhar." 
(Charles Bukowski)








Cigarros




Aquele momento no qual você entende que é preciso sair para comprar cigarros e nunca mais voltar.

Saber perder






Realmente gostaria de não saber perder. De ser aquele tipo de criança que quando perde a partida de futebol começa a chorar e bater nos colegas por não aceitar a derrota. Veja bem, não interprete isso mal: não saber perder, pra mim, pressupõe ter vencido muito mais que perdido na vida. Afinal, quem sempre perde um dia aprende. Fica craque em apertar a mão do adversário e admitir, com a pupila nadando nos olhos rasos d'agua, que o que valeu foi a participação. Nunca quis saber fazer isso. Sempre se dar bem, sempre ganhar deve ser encantador. Ser uma pessoa que a única coisa que perdeu na vida foi a virgindade...


Como dizia Nelson Rodrigues...






Fala Mário!

Claro que vou passar aí no fim de semana! Tá maluco cara? É Dia dos Pais. Mas olha, te liguei ontem pra saber como que foi lá na Terça. Assim... eu já soube que deu merda e tal. Só queria te ouvir, saber de tu... Mas nem precisa, do jeito que te conheço já sei como tu tá. Cara, na boa, lembra do que você me dizia quando eu era o irmão adolescente boçal e inconsequente que só fazia merda? Era algo mais ou menos do tipo: "Convém não facilitar com os bons, convém não provocar os puros. Há no ser humano, e ainda nos melhores, uma série de ferocidades adormecidas. O importante é não acordá-las." Não sei onde tu viu esta porra mas hoje concordo plenamente com isso. E dessa vez vai por mim:  deixa pra lá. Velho, tu é um desses melhores aí. Não deixa foderem com tudo.

Abraço, ninho!

p.s. Manda beijo pra mãe e pro pai. Diz que vou descer a serra no domingo logo cedo com as meninas. Chegamos rapidinho.


Att's

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Flávio Bernardo
Gerente de Relacionamento e Marketing - FM Consultoria

Tin Man



As pessoas se preocupam com crianças brincando com armas, jogando ou assistindo filmes violentos. Acham que essa cultura de violência acaba por fazer-los mal. Ninguém se preocupa com as crianças ouvindo a milhares, literalmente milhares de músicas sobre corações quebrados, rejeição, dor, miséria e perda. Ninguém imagina que, mesmo assim, isso vá criar uma legião de Homens de Lata em busca de um coração. No fim, todos vão descobrir a mesma coisa: 'Corações não são práticos, inviáveis até o dia que os façam inquebráveis'.




Oi, filha





                                                                                                    Barcelona, 22 de Abril e 2006


Oi, filha.

Mari, desculpa responder tua carta só agora, depois de tanto tempo. A mãe aqui ta trabalhando muito e está tudo tão estressante com a turnê... Mas enfim, consegui ler o seu último post no blog e confesso que não acreditava que você pudesse escrever coisas tão sensíveis e tocantes. Tão jovem e tão sábia! Realmente tenho muito orgulho da filha que criei e aposto que seu pai também acha isso.

Então Mari, seu avó me ligou e comentou que você perguntou a versão dele de como eu conheci seu pai e por quê ele foi embora. Talvez seja a hora de você saber da minha versão. Não garanto que seja uma historia 100% feliz, mas é uma boa história.

Eu era um pouco mais velha do que você é agora quando conheci o JP - esse era o apelido do seu pai; eu namorava outro rapaz quando nos conhecemos e por algum motivo teu pai me chamou atenção. Naquela época haviam jovens muito mais interessantes do que hoje em dia. Eu era uma menina muito comum sabe, tão rasa, só ouvia Roberto Carlos e aquela tal de Jovem Guarda...Mas o João vivia ouvindo Joplin, Hendrix, lendo Tolstoi, Orwell e até Jane Austen. Totalmente diferente dos rapazes com quem eu saía e foi isso que me cativou. Não era um moço bonito, nem popular, nem muito talentoso. Ele era como o George Harrison, sabe? Não era gênio incompreendido como Lennon, nem o Sr. Bom Moço igual ao Paul, muito menos o loser tipo Ringo. Ele só tinha aquele ar de mistério inofensivo, carinhoso e sensível do George. Certeza que você puxou isso dele.

Até hoje não sei o que ele viu em mim naquela época, mas acabamos namorando. Aprendi tanta coisa com ele, Mari. Ele me sofisticou, me ensinou a ter senso crítico sobre as coisas. Teus avós o adoravam! Achavam que ele era o melhor marido que eu poderia querer - nunca souberam que aprendi com ele a fumar maconha! Mas estavam certos. Entre namoro e o nosso casamento passaram 4 anos. Anos que me fizeram tão bem! Foi ele que me ensinou e mostrou tanta coisa nova. Coisas que nunca teria contato se continuasse a ser aquela moça comum, burguesa e que só saia com 'meninos'.

Logo depois do casamento você nasceu. Mari, tu não tem idéia do quanto teu pai te babava. O quanto ele era louco por você. Ele te colocava pra dormir toda noite cantando Strawberry Fields Forever...Como eu o amava por isso. Nunca tinha visto ele tão feliz quanto na sua festinha de 1 ano! Fomos muito felizes! Tinha uma boa família, eu já trabalhava no Ministério da Cultura e ele se esforçava pra se adequar ao trabalhabo chato no escritório do seu avô. Lembra dos almoços de domingo de ele preparava?

Porém Mari, teu pai era um espírito livre. Sei que ele não tinha outras mulheres enquanto estava comigo, mas não sei dizer exatamente o momento em que ele deixou de me amar. Acredito que só aconteceu o que sempre acontece: a vida. É difícil aprisionar os que tem asas. Da ultima vez que conversei contigo sobre a separação você disse coisas horríveis sobre ele, coisas que não são verdades. Ele te amava muito, muito, Mari. Ele pediu pra te levar quando foi morar em Brasília e claro que não deixei. Estava muito abalada, sem entender por que tinha sido abandonada sem motivo algum com uma filha de 5 anos; pensando exatamente como você pensa hoje. Continuei o amando mesmo depois que me deixou e amo até hoje. E admita que ele nunca te deixou na mão ou foi um pai ausente, apesar da distância.

Hoje entendo que a gente pode sim, do nada, não querer mais o que se tem. E que pessoas não são feitas para ser anexadas a outras. Foi por isso que te emancipei quando  fizeste 16. Por que eu quero que sejas livre, assim como seu pai foi, que caminhe com as próprias pernas mas sabendo de tens a mim e a teus avós como porto seguro. Essa foi a principal lição que tirei do João. Seja livre pra ser a pessoa de bem que és. Pessoas não possuem nem prendem pessoas.

Hoje, quase 2 anos depois que jogamos as cinzas dele na lagoa, queria que você apagasse qualquer mágoa que ainda houver no seu coração. Seu pai foi a melhor coisa que me aconteceu.


Nos vemos no Natal,

Beijos da mãe.




p.s. sua namorada é linda!!

Pra moça que não sabe ser Mulher






* meus queridos, imaginem um senhor de 87 anos enviando uma carta pra sua neta de 19.


                                 Recife, 2012

Cara Joana,


Depois de nossa conversa concluí: Toda mulher devia ser feminista. 'Feminista' no melhor sentido da palavra.

Toda menina devia estudar a história do feminismo. Dos conceitos de Sagrado Feminino dos povos pagãos até a revolução das minisaias. Devia buscar esse tipo de conhecimento essencial para todo o processo de emancipação da mulher no século XX. Simone de Beauvoir dizia que não se nasce mulher: torna-se uma. Torna-se a partir da percepção de qual lugar você vai tomar na sociedade patriarcal/machista que ainda vivemos.

Veja bem, estou te falando isso não é pra te tornar uma Nazi Feminista, muito menos um macho com ovários. Também não estou te pedindo pra ser aquela mulherzinha rasa e monocromática que só entende de coisas de mulher. Eu estou te pedindo pra honrar as tuas predecessoras e encarar a vida de forma mais corajosa. Sem tanto melodrama, sem choramingar tanto por motivos tão tolos. Você cresceu, uma mulher adulta, comporte-se como tal. Comece parando com esta vaidade imensa. Seja sim vaidosa, mas na medida certa, sem deixar que isso sobreponha sua personalidade ou que chegue ao ponto de ser a única coisa que vemos em você.

Feministas vão dizer que você não tem que ser bonita, que você não deve beleza a ninguém. Nem ao seu namorado, esposo ou companheiro, nem para seus amigos de trabalho, muito menos a qualquer rapaz aleatório na rua. Você não deve isso pra sua mãe, você não deve isso pra seus parentes nem pra sociedade em geral. Beleza não é um aluguel que você paga por ocupar um espaço marcado como 'fêmea'.

Eu, um homem, defendo isto e sei do teu preconceito com essa coisa de feminismo. Levou tempo até eu entender que o feminismo, mesmo o mais radical, não está enraizado no desprezo pelos homens, mas sim na fé que eles são seres humanos. Se um dia eu tiver um bisneto, quero que ele seja uma pessoa decente num mundo em que a decência é a norma, assim como os direitos iguais de gêneros. Não quero que seu filho seja um homem. Quero que seja um ser humano e isso implica no respeito pelo próximo de forma incondicional. Ele chegaria a este mundo como um ser humano. Ele merece a chance de manter essa humanidade, como todos nós. E se não encontrarmos uma forma de permitir que nossos meninos façam isso, temo que nossas meninas não tenham mesmo chance.

E se a única coisa que você lê são os fragmentos de Caio Fernando Abreu soltos por aí, tenta pelo menos ser como a Harriet dele:

"Muita gente deve achá-la antipaticíssima, mas eu achei linda, profunda, estranha, perigosa. É impossível sentir-se à vontade perto dela, não porque sua presença seja desagradável, mas porque a gente pressente que ela está sempre sabendo exatamente o que se passa ao seu redor."



Abraços do vovô Euclides.